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    segunda-feira, outubro 09, 2006
    Nos bastidores do Grito
    Historiadores reavaliam a influência da imperatriz na luta pela Independência
    A história oficial retrata a independência do Brasil como um movimento essencialmente masculino. Desde os primeiros anos escolares, todos aprendem os nomes dos personagens mais ilustres dessa saga, como José Bonifácio de Andrada e Silva, Clemente Pereira, Gonçalves Ledo, Almirante Cochrane e outros patriotas, como eram chamados os adeptos da causa. Todos homens. À frente deles, destaca-se Dom Pedro I, que, de espada em punho, foi o autor do gesto dramático que simboliza até hoje o fim do jugo português. Não faltam nos livros, para estes senhores, menções de glória e heroísmo. Só agora os pesquisadores voltaram-se para uma figura feminina, sensível e discreta, mas não menos corajosa e idealista: a princesa Leopoldina, a primeira mulher de Pedro I, que, aos 20 anos, deixou a Áustria para aportar no Brasil, às vésperas de o movimento emancipacionista ganhar força. Para eles, sua participação no episódio da independência foi, no mínimo, decisiva. Uma visão bem diferente daquela dos livros escolares, que a mostram sempre como uma espécie de sombra do imperador. E que passa ainda mais longe da figura melancólica, submissa e resignada que alguns historiadores insistem em reservar para ela.

    Pouca gente sabe que era Leopoldina quem ocupava a regência do Brasil quando Pedro I fez sua famosa viagem à província de São Paulo, em 1822, e que culminou com a proclamação da independência no dia 7 de setembro. Ela estava no comando do reino desde o dia 13 do mês anterior, oficialmente nomeada por decreto assinado pelo príncipe. Se causa espanto saber que uma mulher já dirigiu o Brasil por quase um mês, ainda mais surpreendente é descobrir que Dona Leopoldina, despachando no lugar do marido, convocou em sessão extraordinária o Conselho de Estado no dia 2 de setembro, no Paço da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e decidiu, junto com os ministros, pela separação definitiva entre o Brasil e Portugal. Em outras palavras: a independência brasileira foi proclamada, no papel, pela princesa Leopoldina, cinco dias antes de Dom Pedro desembainhar a espada e dar seu famoso grito.

    O apoio de Bonifácio
    Provavelmente, o assunto até já tivesse sido debatido entre Leopoldina e o marido, segundo argumenta Viviane Tessitore, historiógrafa da Central de Documentação e Informação Científica (Cedic), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ela prepara tese de doutorado junto ao Departamento de História da Universidade de São Paulo, enfocando a participação da imperatriz na Independência do Brasil. "Leopoldina não teria tomado uma atitude de tal dimensão sem uma margem mínima de segurança de que D
    om Pedro ratificaria o seu ato. Poderia ser constrangedor e até arriscado. Mas o apoio de José Bonifácio, que integrava o Conselho e de quem tornou-se amiga, confidente e admiradora, provavelmente contribuiu para encorajá-la."

    Isso, porém, não diminui o mérito de Leopoldina. Ela tomou essa decisão depois de se indignar com as últimas deliberações do governo português que, entre outras medidas, exigia a ida imediata do casal real para Lisboa e ameaçava dissolver o reino brasileiro com a instalação de juntas governamentais - portuguesas, claro - em todas as suas províncias. "Seria o retrocesso total", pondera Viviane. "A idéia era fragmentar a unidade provincial para assim enfraquecer o movimento emancipacionista. Mas no ponto de organização em que se encontrava a sociedade brasileira, tais medidas só podiam soar mesmo como uma afronta." O que Leopoldina e José Bonifácio fizeram foi mandar o mensageiro Paulo Bregaro a São Paulo, levando tanto as notícias de Portugal, como a decisão tomada pelo Conselho no Rio de Janeiro. A história, a partir do momento em que Dom Pedro recebe as cartas, é bastante conhecida. Não teve a galhardia do quadro de Pedro Américo, pintado em 1888, uma das imagens da Independência mais divulgadas nos livros escolares. Nem aconteceu literalmente às margens do riacho Ipiranga, como está no Hino Nacional. O príncipe bradou o seu célebre grito de Independência ou Morte! no alto da colina próxima ao riacho, onde sua tropa esperava que ele se aliviasse de um súbito mal-estar intestinal. Detalhes de localização à parte, todos conhecem esses fatos. Mas o que coube a Leopoldina permanece ignorado.

    Conhecendo bem o caráter vacilante do príncipe, aproveitou para mandar entre os ofícios uma carta pessoal com o objetivo de persuadi-lo em definitivo. Suas palavras são enfáticas e, ao mesmo tempo, tocam a conhecida vaidade do destinatário. Como o original dessa pequena obra-prima de persuasão extraviou, alguns historiadores evitam mencioná-la, embora contemporâneos idôneos a tenham reproduzido e garantam sua autenticidade. "Pessoalmente, acredito que essa foi mesmo a carta recebida por Dom Pedro, pois seu conteúdo expressa exatamente o pensamento político da princesa", pondera Viviane. Para o historiador Carlos H. Oberacker Jr., o principal biógrafo de Leopoldina e que reconhece na carta o estilo da imperatriz, não há dúvida de que a contundência de suas palavras influenciou o marido: "O episódio do grito do Ipiranga é característico do príncipe impulsivo", garante.
    Da teoria à prática
    Mas a participação de Leopoldina não é apenas persuasiva. Antes mesmo que Dom Pedro voltasse ao Rio de Janeiro, ela toma providências para defender o país contra a iminência de um ataque português, solicitando a elaboração de um plano estratégico de defesa e contratando oficiais mercenários para o combate, já que o Brasil não tinha exército nem marinha. Com o regresso do marido, tratou de consolidar a independência lutando pelo reconhecimento dos dirigentes de outras nações, inclusive junto a seu pai, Francisco I, o poderoso imperador da Áustria, e nada menos do que o líder da Santa Aliança, coligação criada pelos principais monarcas europeus com o declarado objetivo de combater os ideais liberais, sobretudo aqueles propagados pela Revolução Francesa.

    Dom Pedro, entretanto, até as vésperas da proclamação, não estava inteiramente convencido da idéia de separar o Brasil de Portugal, inclinando-se mais em prestar fidelidade ao governo português e a seu pai, o rei Dom João VI, que voltara a Lisboa junto com a família real. A prova disso está numa carta de Leopoldina à sua irmã predileta, a arquiduquesa Maria Luísa, casada com Napoleão Bonaparte, onde afirma que o caráter do marido era exaltado, "com um tratamento contraditório, duro e injusto com todas as novas mudanças e tudo que lhe insinua liberdade lhe é odioso". Ela, porém, sucumbiu aos ideais patrióticos muito antes dele. Primeiro, por motivos dinásticos, na tentativa de preservar a monarquia, mas depois, com a evolução dos acontecimentos, convicta de que a mudança era essencial para o bem público. É possível que os primeiros contatos com os insurgentes tenham sido proporcionados pelo seu secretário particular, o maçon Jorge Antonio von Schäffer, pois era exatamente na clandestinidade das lojas maçônicas que o movimento crescia. Alguns pesquisadores também consideram a hipótese de que essa aproximação possa ter se concretizado através da Igreja. "Havia muitos religiosos envolvidos no movimento como, por exemplo, frei Francisco Sampaio", lembra Viviane. "E Dona Leopoldina era uma católica fervorosa".

    Seja como for, ela já demonstrara muita disposição reformista na ocasião do célebre Dia do Fico, a 9 de janeiro de 1822, quando Dom Pedro decidiu desafiar o primeiro chamado das cortes de Lisboa, permanecendo no Brasil.
    Palpites felizes
    A glória dessa resolução corajosa ficou toda para ele, de acordo com a história oficial, mas, muito antes, Leopoldina tinha resolvido, em definitivo, não abandonar o país. O historiador Carlos Oberacker Jr. chega a dizer que o seu Fico precede o do marido "por mais de dois meses". E ainda fez tudo, durante esse tempo, para que Dom Pedro tomasse a mesma decisão.
    "A documentação da época demonstra que o movimento emancipacionista usou, e muito, da influência da princesa para convencê-lo a ficar", reforça Viviane. "Dom Pedro respeitava as opiniões dela, talvez por reconhecer na esposa uma formação cultural e política que faltava a ele. Os dois discutiam em conjunto sobre as medidas a serem tomadas, o que era invulgar num tempo em que as mulheres não eram ouvidas para nada, muito menos nas questões governamentais". Isso fica muito claro numa carta de Leopoldina dirigida a seu secretário particular um dia antes do Fico, onde ela demonstra a extensão de seu poder de influência: "O príncipe está decidido, mas não tanto quanto eu desejaria. Os ministros vão ser mudados, colocando-se em seus lugares naturais ajuizados do país, e o governo será organizado à maneira da república dos Estados Unidos da América do Norte. Conseguir tudo isto custou-me muito".

    A concretização de seus ideais políticos ia-lhe custar ainda muito mais. O Fico foi apenas um dos fatos que, numa rápida sucessão, culminariam com a Independência do Brasil. Ela sabia que para obter seus objetivos teria que abrir mão de todos os desejos pessoais, entre os quais, o mais ardoroso deles, que era o de voltar à Europa e assim ficar próxima de sua família e da terra natal. "Leopoldina tinha plena consciência de que, com a independência proclamada, dificilmente voltaria a pisar o solo europeu, pois a consolidação do império exigiria sua presença aqui", assegura a historiadora Viviane. Essa renúncia, como se verá adiante, talvez seja o aspecto mais dramático da vida da imperatriz, uma espécie de divisor de águas. Foi uma condição necessária para o gozo de sua vitória política e, ao mesmo tempo, o início de sua tragédia pessoal. Abrir mão de seus próprios sonhos não era novidade para Leopoldina, que foi educada na austeridade e renúncia. Foi, aliás, uma das primeiras lições que aprendeu ainda como arquiduquesa austríaca da Casa dos Habsburgos, uma das famílias imperiais mais tradicionais, ricas e poderosas da Europa naquela época.

    Vantagens conjugais
    Um dos ensinamentos básicos transmitidos a suas princesas era o de servir antes de tudo ao Estado, mesmo que isso significasse o sacrifício de sua vida pessoal. Por essa razão, Leopoldina não se opôs quando foi escolhida para casar com um príncipe desconhecido, herdeiro de um império no fim do mundo. "O casamento entre as casas reais era uma espécie de tratado de relações exteriores", explica Viviane. "Não se tratava de uma questão de família, mas de pura diplomacia. O que interessava era que a união fosse a mais vantajosa possível do ponto de vista dinástico, político e econômico para os dois países. Em geral, os noivos nem eram consultados. O amor não fazia parte desse jogo. Podia até acontecer depois, como foi o caso de Leopoldina, mas aí era com o tirar a sorte grande."

    Foi pensando em firmar uma boa aliança política que Dom João VI resolveu casar seu herdeiro com uma arquiduquesa austríaca. Matava assim vários coelhos: ligava a Casa de Bragança a uma das mais fortes monarquias européias; passaria a integrar, por tabela, a Santa Aliança, e ainda se livrava do jugo da Inglaterra, que submetia Portugal a um humilhante monopólio econômico. Por seu lado, o imperador Francisco I, pai de Leopoldina, embora a monarquia portuguesa não estivesse no melhor de sua forma, via no casamento a possibilidade de colocar um pé no Novo Mundo, representado pelo Brasil e suas imensas e tentadoras riquezas. Sem resistir à tentação, colocou em ação seu chanceler Metternick, perito em usar arquiduquesas casadouras como passe diplomático. O plano inicial de Dom João VI era bem mais ousado. Ele queria não só casar Dom Pedro com Leopoldina, como também sua filha Maria Teresa, que mais tarde seria a cunhada predileta da imperatriz brasileira, com o príncipe herdeiro do trono austríaco, o arquiduque Fernando. Não deu certo. Para o imperador Francisco I, casar a filha já estava de bom tamanho. Depois de uma longa negociação, o casamento foi enfim realizado por procuração, sem a presença do noivo. Houve um momento periclitante, que por pouco
    não pôs o acordo a perder. A Inglaterra, numa última cartada, tentou, através de seu diplomata em Viena, denegrir a imagem do príncipe herdeiro português, dedurando suas crises de epilepsia e a vida libertina que levava no Brasil, que incluía um suposto caso amoroso com Noémi Thierry, uma dançarina francesa. Uns bons panos quentes resolveram a questão e nada disso chegou aos ouvidos de Leopoldina. Tudo o que ela ficou sabendo sobre o seu futuro marido estava num medalhão com a imagem de Dom Pedro, preso a um colar de diamantes de primeira água, dado a ela pelo diplomata português escalado por Dom João VI, o Marquês de Marialva, com o ardiloso propósito de impressioná-la. "Parece que a jóia foi o que contou menos", ressalta Viviane. "Toda a atenção da jovem princesa foi para o retrato no medalhão. Ela achou o noivo lindo. Em carta à irmã Maria Luísa, chegou mesmo a compará-lo a Adonis, confessando que já tinha olhado para a imagem mais de mil vezes."

    Tanto entusiasmo era compreensível. Embora na iminência de deixar seus entes queridos e o conforto do palácio Schönbrunn, onde nasceu, para viver num país selvagem, Leopoldina, com a contratação de suas núpcias, escapava de casar com algum parente velho e gordo, como aconteceu com sua irmã Maria Clementina, casada com o tio Leopoldo, príncipe de Salerno, que, além do mais, sofria "do defeito da grosseria". Dom Pedro, como mais tarde ela iria sentir na pele, estava longe de ser um primor em matéria de delicadeza. Mas, pelo menos, era moço, tinha olhos negros sedutores e "lábios mais grossos do que os meus", como descreveu à irmã. Ainda em seu afã de jovem casadoura, Leopoldina crivou de perguntas o representante diplomático de Portugal em Viena, para saber mais sobre o esposo. Culta e refinada, perguntou qual era a ciência predileta de Dom Pedro.

    Mentirinha diplomática
    Sabendo do imenso interesse da princesa pelas ciências naturais, Marialva não perdeu a pose, afirmando que o príncipe gostava especialmente de botânica e zoologia. Leopoldina exultou. Aliviado, Marialva marcou mais um tento diplomático. A afirmação dele talvez nem fosse um completo disparate. Existia efetivamente, naquele tempo, um interesse generalizado pelas questões científicas, embora, como é sabido, Dom Pedro se ocupasse mais em adestrar cavalos do que com as veleidades intelectuais. De qualquer modo, mentiras diplomáticas sempre existiram em qualquer época. E Marialva estava ali para isso mesmo.

    O embarque para o Brasil ocorreu em agosto de 1817. O mais extraordinário foi que a idéia de singrar o oceano não a amedrontou. Pelo menos, não tanto quanto poderia. Naquele tempo, atravessar o Atlântico era comparável a uma viagem espacial de hoje. O risco de naufrágio e o desconforto do próprio navio eram suficientes para desencorajar até os mais velhos lobos do mar. Mas, além de conhecer Dom Pedro, Leopoldina tinha outro bom estímulo para empreender a viagem: seu gosto pela história natural. Pode-se imaginar o que a exuberância da fauna e da flora brasileiras representava para uma entusiasta da botânica, zoologia e mineralogia. Seu fascínio pelo Novo Mundo, desenvolvido pela leitura das obras do naturalista Alexandre von Humboldt, podia ser agora experimentado in loco. Junto com ela, aliás, veio também uma importante missão científica integrada, entre outros, pelos naturalistas João Batista Spix e Filipe von Martius, o botânico Giuseppe Raddi e o paisagista Thomaz Ender, que muito contribuiu para o levantamento dos recursos naturais brasileiros. Leopoldina chegou a considerar a viagem como uma predestinação, alegando que desde menina sonhava em conhecer a América.

    Os primeiros anos de vida conjugal dos dois jovens príncipes em terras brasileiras foram felizes. Leopoldina apaixonou-se de verdade por Dom Pedro, a quem, até o fim, se referia como "meu adorado esposo". Tudo indica que seus sentimentos eram retribuídos. Por diversas vezes foram vistos em passeios solitários pela floresta da Tijuca, longe da vigilância da Corte, de onde se conclui que os dois se deram bem, muito além do que se podia esperar de um casamento arranjado. Eles tinham, aliás, todo o tempo do mundo. Até aquele momento, Dom Pedro não exercera nenhum papel político. Isso só vai acontecer, de maneira sistemática, com a volta da família real portuguesa a Lisboa, em 1821, quando ele assume o governo, como príncipe regente, no lugar de seu pai, Dom João VI. Até então, Leopoldina ainda sonhava voltar à Europa. Aos poucos, porém, vão aumentando os laços afetivos que a ligam à nova terra, seja como princesa, lutando pela independência, seja como primeira imperatriz brasileira, a partir de 12 de outubro de 1822, quando Dom Pedro foi aclamado imperador. "Não é correto afirmar que Leopoldina teve uma adesão natural ao movimento da Independência", corrige Viviane. "Ela nunca foi uma rebelde. O que houve foi uma evolução do envolvimento com o Brasil. Primeiro reconhecendo a nacionalidade brasileira para os filhos; depois, defendendo a pequena propriedade agrícola e a policultura. Isso demonstra que ela já via o Brasil como uma nação distinta de Portugal e com imenso potencial de desenvolvimento. Daí a engajar-se no movimento emancipacionista foi um passo."

    Provocação real
    Avitória representada pela proclamação da Independência marca, contraditoriamente, o começo do trágico fim de Leopoldina. É na fatídica viagem a São Paulo, em 1822, que Dom Pedro conhece sua futura amante Domitila de Castro, depois agraciada com o título de Marquesa de Santos, numa provocação a José Bonifácio, que pertencia a uma família santista.A cutucada se explica: a essa altura, o velho patriarca já se tornara inimigo político do imperador e o mais ferrenho adversário de Domitila. À medida que aumenta a paixão do monarca pela cortesã, o que era comentado à boca pequena por todo o reino, crescia na mesma proporção seu desprezo pela imperatriz. Muito querida por seus súditos, Leopoldina ganhou logo a solidariedade das camadas populares contra a destruidora de lares reais. Consciente de seu comportamento, tão pouco recomendável a um imperador, e temendo manifestações, Pedro I chegou mesmo a impor a Leopoldina uma espécie de cárcere privado, proibindo-a de aparecer em locais públicos sem a sua presença. Mas seu calvário não termina aí. Ela começa a sofrer as mais insultantes humilhações. Uma delas foi a descarada nomeação de Domitila para a função de primeira dama da imperatriz, obrigando-a a conviver com sua rival sob o mesmo teto do Palácio de São Cristovão. Cada vez mais deprimida, angustiada e grávida pela nona vez, Leopoldina acabou abortando. Alguns historiadores sustentam que o incidente ocorreu em função de um pontapé no ventre, ministrado por Pedro I, após uma violenta discussão provocada pela recusa da esposa em comparecer a uma cerimônia de beija-mão, acompanhada apenas pela amante do imperador, o que equivaleria a uma aceitação pública do relacionamento escuso. Após o aborto, sua saúde debilitou-se por completo. Ao mesmo tempo, voltaram-lhe as saudades da pátria distante. Campeã em auto-controle ao longo de toda a vida, chegou a perder a paciência quando Dom Pedro ausentou-se por mais de um mês do palácio. Num rompante, escreveu a ele que decidisse entre as duas, ou "me dará licença de me retirar para junto de meu pai", ou seja, voltar à Áustria. Não teve tempo. Cada vez mais triste e doente, caiu entrevada ao leito. Em sua longa agonia, em meio a febres, delírios e solidão, ainda teve forças para ditar uma carta à irmã fiel, Maria Luísa, pedindo amparo aos filhos, "que órfãos vão ficar, em poder de si mesmos ou das pessoas que foram os autores das minhas desgraças". Era o fim definitivo do sonho de rever Viena e os deslumbrantes jardins do castelo de Schönbrunn. Morreu, aos 29 anos, em 11 de dezembro de 1826, no Rio de Janeiro, mais brasileira do que nunca.
    Entre o berço de ouro e o fim do mundo
    O nome de batismo da primeira imperatriz brasileira era tão grande quanto o poder da Casa Imperial dos Habsburgos, à qual pertencia: Leopoldina Josefa Carolina Francisca Fernanda Beatriz de Habsburgo-Lorena. Ela ainda acrescentou por conta própria o prenome Maria, numa provável homenagem à Casa de Bragança, família de Dom Pedro. Foi como Maria Leopoldina que ficou conhecida no Brasil. Seus pais, Francisco I, imperador da Áustria, e Maria Teresa de Bourbon-Nápoles, eram primos-irmãos, ambos netos de Maria Teresa, a Grande, uma das maiores estadistas de sua época, conhecida por sua obstinação, traço que a bisneta parece ter herdado. Nascida em Viena, a 22 de janeiro de 1797, Leopoldina cresceu entre o palácio de Schönbrunn, onde morava, e o Hofburg, onde a família passava o inverno, descontadas as vezes em que se viu forçada a abandoná-los durante as invasões napoleônicas.

    Sua educação foi primorosa. Normalmente, não se exigia muito das princesas, bastava ensinar-lhes a costurar e bordar, além, claro, de boas maneiras e algumas aulas de piano. Mas não na Casa dos Habsburgos. Ali, as mulheres tinham um nível cultural altíssimo.

    Desde pequena, Leopoldina foi submetida a um programa intensivo de aulas diárias, adquirindo conhecimentos científicos, políticos, históricos e artísticos, além de aprender idiomas estrangeiros, especialmente o francês. A tragédia instalou-se também muito cedo em sua vida. Tinha apenas 10 anos quando sua mãe morreu. Por sorte, sua madrasta, Maria Ludovica, adotou-a como filha. Mulher de grande cultura, amiga pessoal e musa do poeta Goethe, ela foi responsável pela formação intelectual da enteada, desenvolvendo na jovem o gosto pela literatura, a natureza e a música de Haydn e Beethoven. Quando chegou ao Brasil, Leopoldina encontrou um ambiente muito diferente. A corte portuguesa não dava a mínima para as grandes questões espirituais e tinha horror aos novos ideais das sociedades modernas. Perpassada de mexericos, logo a estigmatizou como "a estrangeira". Os pais de Dom Pedro, Dom João VI e Carlota Joaquina, viviam separados. A conselho do próprio pai, a princesa mantinha-se estrategicamente afastada de sua sogra geniosa, desbocada e de hábitos desabridos, que, entre outros feitos, era acusada de mandar assassinar a mulher de um dos seus amantes. Em contrapartida, tinha especial afeição por Dom João VI, que considerava seu pai da América. O palácio de São Cristovão, onde passou a morar com Dom Pedro e o sogro, estava longe do esplendor de Schönbrunn. Era, na verdade, uma casa-grande de fazenda adaptada para abrigar a família real. Os aposentos de Leopoldina eram tão acanhados que mal permitiam a instalação de sua vasta biblioteca e de suas coleções de plantas e minerais. Em compensação, tinha à disposição as florestas do Rio de Janeiro para suas incursões de naturalista, o que ela fazia geralmente a cavalo, usando calças compridas e montando à maneira dos homens, com as pernas encaixadas na sela. Podia ser incomum na época, mas era mais prático e seguro para a imperatriz, que tinha na pesquisa científica um de seus poucos prazeres em terras brasileiras.



    O vulcão chamado Domitila de Castro
    O romance incandescente de Dom Pedro I com Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, apesar de fora dos trilhos do casamento, não era exatamente daqueles que se inscrevem na categoria dos amores clandestinos. Era público e notório. Todo mundo no reino comentava e até Dona Leopoldina sabia. Mas, convenhamos, Dom Pedro não se empenhava muito pelo recato. Assim que pôde, instalou a marquesa em um belo solar, construído especialmente para ela, bem em frente ao Palácio de São Cristovão. Dali, o príncipe ciumento vigiava os passos da amada, como demonstram alguns bilhetes onde ele intima: "Mande-me dizer quem está lá, pois de cá vejo duas seges (carruagens)". Ou ainda: "Quero saber muita coisa: primeiro, como passaste. Segundo, onde foste passear. Terceiro, a que horas chegaste. Quarto, por que havia luz às onze e meia na sala redonda de baixo, e quinto, se te divertiste bem...". Mesmo assim, às vezes se dava mal: "Muito obrigado por mandares fechar as janelas estando eu de óculo olhando para
    te ver".

    Filha de um coronel reformado, Domitila, ou Titília, como era chamada pelo imperador na intimidade, tinha um comportamento bem pouco convencional para a época em que viveu. Quando Dom Pedro a conheceu, ela era ainda casada com o alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça. Mesmo antes de ser expulsa de casa pelo marido e de se amasiar com o imperador, a fogosa paulista manteve relações íntimas com um tenente-coronel. Os historiadores dividem-se entre aqueles que consideram sua conduta amoral e os que vêem nela uma transgressora, pioneira da emancipação feminista.

    O que tem sido injusto é a alegação muito repetida, na historiografia, de que Dom Pedro trocou a recatada Leopoldina pela vulcânica marquesa, porque a imperatriz seria feia e sem graça. Embora ela não fosse uma beldade, tinha lindos olhos azuis e cabelos louríssimos, naturalmente cacheados. "Alguns historiadores afirmam que Dom Pedro mal pôde disfarçar a decepção ao vê-la pela primeira vez, mas os relatos dos que presenciaram a cena apontam para o contrário", desmente a historiadora Viviane Tessitore. "Além disso, os diversos retratos da imperatriz, pintados por diferentes artistas, mesmo que retocados, como era hábito, conservam traços e expressões recorrentes, que mostram uma mulher de feições agradáveis." Talvez a melhor explicação para o fato de Domitila ter conquistado, por tanto tempo, a atenção de um dom-juan inveterado, está, para usar uma expressão da lavra do próprio imperador brasileiro, na paixão despertada "da cintura para baixo".

    As estripulias de Dom Pedro com a marquesa tiveram repercussão internacional. Tanto que, ao ficar viúvo de Leopoldina, as negociações de um novo casamento para Dom Pedro foram difíceis. Uma das condições impostas à sua união com a princesa Amélia de Le
    uchtenberg, em 1829, foi despachar Domitila da corte, o que, de fato, aconteceu. De volta a São Paulo, a marquesa casou novamente com o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar. Mas, antes disso, para não perder o hábito, viveu com ele em concubinato por vários anos, dando-lhe seis filhos.

    O resto de sua vida passou ajudando os pobres, o que lhe permitia o dote feito durante o interlúdio imperial. Apesar desse crepuscular amor ao próximo, passou para a história como a amante devassa e despudorada. Mas ela tinha lá os seus princípios. Fumante inveterada, em público jamais levou um cigarro à boca.

    Anote
    Para ler

    A Princesa Leopoldina, de Carlos Oberacker Jr.;

    Dom Pedro e a Marquesa de Santos, de Alberto Rangel

    Viagem Pitoresca e Histórica pelo Brasil, de Auguste Batiste Debret

    Dona Leopoldina, de Glória Kaiser, Ed. Nova Fronteira, 021/537-8770 visão romanceada da vida da Imperatriz.

    O Chalaça, de José Roberto Torero, Cia. das Letras,
    0800-142829; romance satírico

    Para visitar

    Museu Paulista, São Paulo, SP, (011) 215-4588
    Museu Nacional, Rio de Janeiro, RJ, (021) 568-8262

    Museu Imperial, Petrópolis, RJ (024) 237-8000,
    Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, RJ, (021) 550-9220

    Museu do Primeiro Reinado, Rio de Janeiro, RJ, (021) 589-9627


    Direto do Ipiranga
    Criada no bairro do Ipiranga, em São Paulo, a historiadora Viviane Tessitore desde cedo conviveu com a história da Independência do Brasil. Além de morar próximo ao local onde ela foi proclamada, e do Museu Paulista, que dispõe de um acervo enorme de peças e documentos relacionados a esse período, Viviane cansou de passar por ruas com nomes de vultos que tiveram participação no movimento. Mas seu interesse especial pela vida de Maria Leopoldina nasceu também muito cedo. Foi durante as comemorações do Sesquicentenário da Independência, em 1972, quando ouviu de uma professora que a história ainda faria justiça à imperatriz. Hoje, Viviane prepara seu projeto de doutorado intitulado Imperatriz Leopoldina, Imagem de sua Atuação na Construção do Brasil Independente, cujas pesquisas já incluíram várias viagens à Áustria para levantar a documentação existente sobre a personagem em seu país de origem. Ao mesmo tempo, a historiadora presta consultoria a uma equipe de cineastas integrada por brasileiros e alemães que pretende filmar a vida da imperatriz.

    revista Galileu
    posted by iSygrun Woelundr @ 1:54 PM  
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